Constantemente recebemos o contato de mães que trazem a queixa de atraso no desenvolvimento da linguagem em seus filhos, no consultório, podemos até dizer que é um dos sintomas mais frequentes.
A grande maioria das pessoas acaba até mesmo associando o atraso ou ausência da linguagem ao Transtorno de Espectro Autista (TEA, leia mais sobre em nosso texto) e quando percebe essa condição em seu filho já vem carregando em si a certeza desse diagnóstico, porém é necessário esclarecer que há outras condições que causam comprometimento na linguagem ou muitas vezes que o autismo não é o único transtorno presente naquela criança.
A linguagem é muito importante no desenvolvimento.
É muito importante explicarmos aqui que a Linguagem é um Marco do Desenvolvimento (leia nosso texto) fundamental para o ser humano, pois aprender a falar tem relação com outras questões, podendo afetar inclusive questões emocionais, crianças com Apraxia da fala sofrem intensamente, pois elas entendem, sabem o que querem falar, porém tem dificuldade para se expressar.
A Comunicação, a Linguagem e a Fala são bases indispensáveis para a aprendizagem, que quando inadequadas irão afetar a alfabetização, a leitura e a escrita.
O comportamento também sofre interferências da ausência ou dificuldade na fala, na comunicação ou na linguagem, pois a criança que não consegue se comunicar começa a usar seu comportamento para expressar o que quer, o que deixa muitas vezes as crianças mais agitas, mais impulsivas, pois se ela dá sinais de que quer algo e não consegue expressar suas necessidades, pode empurrar, morder, se jogar no chão ou mostrar o que quer de uma forma desorganizada.
Vamos primeiro entender o que é Praxia?
Podemos dizer de forma bem simples e direta que este nome é usado quando falamos da habilidade de cumprir uma sequência motora, normalmente não percebemos isso em nosso dia-a-dia, pois fazemos as coisas praticamente como se estivéssemos no automático; porém se trata, por exemplo, dos movimentos que se necessita para amarrar um tênis, escrever uma palavra e até mesmo para falar.
E o que é então Apraxia e Dispraxia?
Estes dois termos em si definem a inabilidade de realizar uma sequência motora.
A primeira, Apraxia é a perda, esse termo é usado quando uma pessoa tinha um movimento motor e por algum motivo deixa de tê-lo, como um trauma encefálico, a presença de um tumor, uma hemorragia etc. Então, nesses casos normalmente já existia a habilidade de realizar uma sequência motora, porém por algum fator como os citados anteriormente houve a perda desta habilidade. É necessário lembrar que esta condição é mais rara.
Já a Dispraxia é a ausência, ela acontece quando a criança não conseguiu cumprir uma sequência motora, que pode ser: não conseguir amarrar um tênis, escrever ou falar. Neste caso se observou ao longo do desenvolvimento da criança que ela não conseguiu realizar esses movimentos.
A dificuldade de entender e identificar casos de dispraxia é que muitas vezes a criança não sabe expressar sua dificuldade, ela não tem, muitas vezes, como mostrar que conhece o que deve fazer, mas simplesmente não consegue.
Apraxia e Dispraxia da fala é…
Precisamos dizer que mesmo sendo pouco conhecido esse transtorno está presente em 1 criança a cada 68, um número bastante elevado e que infelizmente leva com frequência a diagnósticos errados por não ser muito visto.
Para que possamos falar, (antes de movimentarmos a boca e até mesmo os músculos do pescoço e da garganta) nosso cérebro precisa enviar a informação, certo? Depois vêm o som que conhecemos como fala. O paciente que se encaixa no diagnóstico em questão, possui dificuldade em unir dois pontos importantes da fala: o ato motor e a fonética.
Apraxia ou Dispraxia da fala então é a dificuldade para articular sequências de fonemas durante a fala. Portanto, a criança sabe o que quer falar, porém não consegue organizar para se expressar.
Muitas vezes, nestes casos, a criança pequena demora para desenvolver a fala (veja o texto sobre os sinais de atraso no desenvolvimento da fala), mas em algum momento desenvolve, mesmo que com prejuízos; ou quando maior ela fala, porém tem um vocabulário restrito, já que fazer junções fonéticas mais complexas é mais trabalhoso.
O que posso fazer caso meu filho tenha essas dificuldades?
O ideal nesses casos é buscar uma avaliação multidisciplinar, pois apesar de haver nitidamente um problema com a Linguagem é necessário descartar outras possibilidades, como um quadro de autismo, deficiência intelectual e até mesmo a existência de outros transtornos junto que a Apraxia/Dispraxia.
Em caso de comprovado esse diagnóstico o indicado é a terapia fonoarticulatória, ou seja, o tratamento deve ser feito exclusivamente como uma fonoaudióloga que tenha conhecimento nestes casos, outras terapias serão pertinentes em caso de comorbidades.