Com o início do ano e o final do carnaval, nossas pendências para este ano ficam definitivamente fora do papel e deixam de ser simples planos ou pelo menos não temos mais a desculpa do tempo para postergarmos nossas necessidades.
Com um novo ano letivo, com o término das primeiras provas e os resultados, com certeza, pais que sofrem com o desempenho escolar de seus filhos, voltam a ficar de cabelos em pé.
Muitos não sabem como resolver e o que fazer diante de situações como essas. Afinal, a criança tem dificuldade em algum tipo de matéria ou ela definitivamente tem um transtorno que a impede de aprender?
É preciso levar em conta que a aprendizagem envolve muitas variáveis e aspectos, como questões sociais, biológicas e cognitivas.
Há fatores muito importantes que podem influenciar no desempenho escolar, como por exemplo: NEUROLÓGICOS (prejuízo intelectual, epilepsia, comprometimento cognitivo, lesões, encefalopatias e paralisia cerebral), DOENÇAS (hipotireoidismo, desnutrição, anemia, cardiopatias, diabetes e uma série de outras doenças), SENSORIAL (visual, auditiva, hereditárias, congênitas ou adquiridas), PSÍQUICOS (fobias, depressão, transtorno de ansiedade, transtorno opositor desafiante) e MOTORES (transtorno de desenvolvimento de coordenação – dispraxia).
Transtornos X Dificuldade

O principal é primeiramente entender que são coisas diferentes e nem toda dificuldade que a criança tem na escola se deve a um transtorno na aprendizagem.
A Dificuldade de Aprendizagem é um sintoma de que algo está influenciando na forma de aprender, que pode ter questões emocionais ou pode também ser influenciado pelo contexto cultural ou estar ligada a situação socioeconômica da criança. É algo caracterizado por um período da vida da criança, podendo ser passageiro ou algo com a base inicial mal aprendida que a criança carrega por anos. É essencial que o diagnóstico seja feito o quanto antes, uma vez que há consequências em longo prazo. A maior parte destes problemas podem ser resolvidos no ambiente escolar ou com professores particulares, pois se tratam de questões psicopedagógicas.

Já o Transtorno ou Distúrbio de Aprendizagem está ligado a um grupo de dificuldades pontuais e específicas, caracterizadas pela presença de uma disfunção neurológica. É algo para a vida toda, pois estamos falando de uma disfunção neurológica. Em casos deste tipo, é um funcionamento cerebral diferente. Estamos lidando com uma falha de funcionamento de conexões neuronais. E a pessoa mesmo sem apresentar alguma questão aparente ou física (como uma síndrome) nas relações ou emocional, os portadores do distúrbio de aprendizagem demonstram dificuldade em adquirir o conhecimento da teoria de determinadas matérias. Isso não significa que ela não seja capaz de aprender, já que esse quadro é reversível, necessitando para isso de métodos diferenciados de ensino adequados à singularidade de cada caso. Em muitas situações a intervenção medicamentosa é indispensável.
Os possíveis TRANSTORNOS de APRENDIZAGEM podem ser denominados (segundo CID 10):
- F
81.0 – Transtorno específico de leitura (conhecido como Dislexia)
- F 81.1 – Transtorno específico do soletrar
- F 81.2 – Transtorno específico das habilidades aritméticas (conhecido como Discalculia)
- F 81.3 – Transtorno misto das habilidades escolares
- F 81.8 – Transtornos das habilidades escolares
- F 81.9 – Transtornos do desenvolvimento das habilidades escolares não específico
De forma mais comum ouvimos falar muito em Dislexia (transtorno de leitura e soletração), Discalculia (dificuldades aritméticas), Disgrafia (letra ilegível ou muito ruim) e Disortografia (muitos erros ortográficos e de pontuação).
Como descobrir o que meu filho tem?
Então, se você entende que se o seu filho teve um desempenho ruim ano passado, esse ano algumas coisas precisam ser diferentes para que ele tenha um melhor aproveitamento e a família fique longe de tantos momentos de angústia, não é mesmo?
As dúvidas são inevitáveis, afinal há muitas ofertas de profissionais nessa área. O fato é que a criança não tem maturidade para resolver e perceber o seu problema sozinha. Ela precisa de assistência extra, pois infelizmente nem todos os professores e nem todas as escolas estão preparadas para esse tipo de auxílio.
Toda essa preocupação pode ter consequências graves; as mães, os pais e outros responsáveis por essas crianças podem acabar desenvolvendo transtornos como depressão, ansiedade e estresse, isso pode prejudicar o relacionamento entre a criança que tem essas questões com a escola e seus pais ou responsáveis.
Por isso, é muito importante que os adultos responsáveis por esta criança, busquem ajuda de Neuropsicológos (como nós), psicopedagogos, fonoaudiólogos, neuropediatras e psiquiatras, pois só se consegue um diagnóstico certo e mais objetivo, com uma equipe multidisciplinar e diferentes pontos de vista sobre essa criança e sua relação com o aprender.
Além disto, as crianças e seus pais devem ter um espaço para tratar de sua saúde mental, fazendo psicoterapia individual, mas também fazendo uma Orientação para Pais, como o que fazemos pelo blog com vocês, chamado de Psicoeducação, que tem como objetivo esclarecer as dúvidas sobre como lidar com o quadro em casa e como devem se relacionar com os professores e a escola.
Como os pais e professores podem ajudar?

A primeira coisa é acabar com o preconceito e a melhor forma é: estudando, lendo, ouvindo testemunhos de pessoas diagnosticadas e o quanto a vida delas mudou após esse momento. Não ignore os transtornos e seus tratamentos. Não os use de forma incorreta ou até pejorativa, como por exemplo, o TDAH (que não é um Transtorno de Aprendizagem, mas pode causar dificuldades de aprendizagem).
Não chame uma criança com energia e vitalidade de hiperativo, não banalize; isso muitas vezes faz leigos na área tratarem os transtornos como algo que não é real.
Na escola, professores precisam estar a par de transtornos ligados ao desenvolvimento infantil de forma geral. Os pais precisam cobrar a escola sobre participação de profissionais da saúde parceiros, que trabalhem com eles de forma direta. A escola precisa selecionar profissionais capacitados, que não ignorem a existência de todo este material. Visto que muitos professores são treinados para “ensinar crianças que aprendem” e não a lidar com crianças que “não aprendem”.
Em uma reunião de pais e mestres é muito comum pais saírem estressados, frustrados, perdidos e sem saber por onde começar. Pois, é na escola que primeiramente deveríamos encontrar apoio, compreensão e uma orientação adequada de como lidar daqui para frente com essa criança. Mas se você é mãe/pai de uma criança que não aprende ou que tem dificuldades, sabe que na maioria dos casos (há exceções), os pais se sentem julgados e falhos na educação da criança.
Precisamos ressaltar a necessidade da escola em buscar conhecimento e capacitação de professores para estes momentos.
Entretanto, os pais precisam também desta capacitação e envolvimento no tratamento da criança. Buscando fazer trocas com os profissionais que cuidam da saúde dessas crianças (citados acima). É importante que estejam todos envolvidos (como uma equipe) nesse processo delicado de orientar a criança nesse momento delicado que é aprender.
Então, se você é pai, mãe, professor (a) ou responsável por uma criança com dificuldades na escola, não deixe de buscar ajuda e orientação.
Não tenha medo em ter informação sobre o assunto, pois temos um longo caminho de conscientização para ser feito em nossa sociedade.