Com o final de ano, essa queixa se torna comum no consultório. É algo que traz sentimentos de angústia tanto para a criança, quanto para a família.
A sensação de tempo perdido, ou de dinheiro jogado no lixo com mensalidade, material escolar, professores particulares é comum aos pais.
E a frustração de fazer tudo de novo, a vergonha em não ter conseguido o objetivo final, deixar os velhos amigos e estudar com crianças mais novas, é comum aos filhos.
A verdade é que ninguém repete de ano de forma repentina, afinal são 12 meses, 365 dias de aulas, trabalhos, lições de casa e provas. E não ter passado, significa que a criança não atingiu o objetivo muitas vezes. Ou seja, foi um ano de muitas dificuldades acadêmicas ou de comportamento.
Algumas mães nos procuram preocupadas em emissão de laudos para que evitem uma reprovação da criança. Quando na verdade, não há transtorno que evite reprovação. Como citamos, há muitas possibilidades de avaliações e muito conteúdo a ser avaliado. Se ele não obteve a média nas matérias necessárias, significa que ele não obteve o mínimo exigido de aproveitamento. Como passar para o próximo ano sem ter aprendido de forma adequada o conteúdo?
Quando os pais pensam que seu filho vai repetir de ano, normalmente o que domina é o medo e a resistência ao fato de que talvez seja necessário mesmo que essa criança curse novamente aquele ano escolar, muitos pais pensam que o que levou a isso foi preguiça da criança, falta de empenho ou até mesmo implicação da escola ou do professor, poucos se preocupam em realmente saber se o que está por trás daquela retenção é uma dificuldade real ou até mesmo um transtorno de aprendizagem.
O esperado para a maioria das crianças é que o período de 1 ano naquela série seja o suficiente para que ela aprenda o que é determinado para aquela idade. Quando a escola faz essa “retenção”, é porque entendem que a criança não está pronta para seguir em frente, seja por questões de aprendizagem ou até mesmo de maturidade.
Muitas vezes o “ repetir de ano” traz um peso grande, como se todas as chances de evoluir tivessem se esgotado. A maneira como abordam esse assunto, provoca medo nas crianças, e esse sentimento pode servir de engajador e motivador (“ não quero passar por isso, então me dedico demais nas últimas oportunidades que me restam”), ou essa criança pode se sentir preso nas suas dificuldades, não conseguindo evoluir.
Após as tentativas e recuperações algumas crianças não atingem a nota mínima e a reprovação é inevitável. Muitos pais encontram dificuldade em lidar com esse momento, alguns optam por punições severas, mas o fato é que não importa qual restrição você aplique. Qualquer uma delas será temporária. E a única consequência real de repetir de ano, será fazê-lo novamente, revendo conteúdos, estando longe dos amigos e passando pelo processo.
É importante que você observe a postura do seu filho, quanto aos assuntos escolares. Há aqueles que realmente não estavam empenhados, não estudaram e sua única ocupação na escola era a parte social. E há aqueles que muito se dedicaram, estudaram e eram perceptíveis as tentativas de sucesso da criança. Os dois perfis repetem de ano do mesmo jeito, precisam de acompanhamento, acolhimento e que seus pais façam uma leitura da situação.
Falar do assunto em momentos inoportunos ou até mesmo “ jogar na cara”, não é uma forma de resolver. Inclusive nesses momentos é preciso que os pais controlem suas frustrações sobre o assunto.
É necessário que se enxergue que a criança tem um novo desafio pela frente, que precisa ser vivido de forma diferente do ano anterior.
Muitas crianças são desorganizadas quanto a rotina de estudo, material escolar, horários e divisão de tempo. Cabe aos pais notarem este comportamento e ajudá-los (lembre-se que muitos não sabem que precisam de ajuda, por isso não pedem).
É importante ressaltarmos aqui que independente das dificuldades de aprendizagem ou transtornos de aprendizagem, que são diferentes entre si, é necessário haver uma investigação para descobrir o que tem atrapalhado a vida escolar dessa criança, costumamos explicar para os pais entenderem melhor, que a dificuldade é algo que vem de fora e prejudica o seu filho, como uma tristeza, uma situação negativa, um conflito, bullying, algo que o deixa ansioso, etc. E o transtorno é algo que vem de dentro da criança, pois é algo normalmente genético, como uma dislexia, uma discalculia, um TDAH, entre outros, por isso é muito importante parar de pensar que é algo que vai se resolver sozinho ou que a culpa é única e exclusivamente da criança.
Ajude eu filho a promover aprendizado da experiência, muitos estudantes que tinham determinada postura, passaram a se comportar de maneira diferente após o acontecimento em questão. Como um “ despertar” e o sentimento de não querer passar por aquilo novamente.
Falem sobre dedicação, metas e comprometimento.
A lição de sentir na pele, que ele é o único que sofre de maneira integral as consequências das suas ações, é uma forma de amadurecimento, portanto use esse momento a favor do seu filho!
E se necessário não hesite em buscar ajuda profissional, como já dissemos o problema pode vir de fora ou de dentro.
